domingo, 21 de abril de 2024

Me cuida que eu te cuido

Cuidado

Substantivo. Não a interjeição, "cuidado!"

O Cuidado

Uma coisa de responsabilidade misturada com carinho

Uma coisa que aprendi com minha mãe 

Reforcei na caminhada com alguns professores

E continuo aprendendo com meus amigos e amores

Cuidado é muito bom, gostoso demais

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Tira daqui o que incomoda?

Manda prender

Manda internar

Manda matar

Joga no lixo

Extermina

Joga fora

E quando não tem fora?

E quando o fora está dentro?

É sempre mais fácil tirar da vista o que incomoda do que lidar com o incômodo.

A gente tira tanta coisa da vista que em algum momento a pilha de descartes se faz ver com mais veemência do que o que é "desejado"

Não existe fora

Todo descarte uma hora transborda

terça-feira, 18 de julho de 2023

Mundane

Cada serzinho é um mundo único 

E tem muitos mundos num mesmo mundo

Mundos novos, mundos velhos, mundos previsíveis, mundos inacreditáveis...

É muito mundo pra dar conta

É mundo demais pra supor capaz de conhecer

Só dá pra passear, vivenciar um canto ou outro, admirar umas paisagens que se deixam mostrar de passagem

Cada mundinho é um ser único

Um ser

Sendo

Enquanto outro também está sendo

Depois que outro já foi

Antes que outro venha a ser

Ser

domingo, 9 de abril de 2023

Aguar

Muito me regaram, me irrigaram, me encheram

Me transbordei umas vezes

Me escorriam os olhos quando fui tempestade

Me brotava na pele quando era paixão

Transbordei tantas vezes que alguns viram em mim nascente

Já fui fluxo, onda, gotejei e até evaporei

Já moldei paisagens e já fui represa

Rompi umas barragens

Hoje escolho ser espelho...

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Segui

 Eu tentei desistir.

Eu desisti, na verdade. Desisti de tentar.

Tentei parar, e depois parei de parar.

Sigo parando de parar. 

Sei que não é uma experiência que se compartilhe.

Parar é ação solitária. Parar de parar também.

Agradeço a todos que tentaram que eu parasse antes que eu mesme o fizesse.

Mas a realidade é que a gente só para quando quer.

E agora eu quero. Eu escolho. Eu desisti de desistir.

Eu escolhi seguir. Parei de parar.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O universo numa casca de nós

 Sim. Numa casca de NÓS. Da gente. Não de noz. Mas de noz também. Mas principalmente de nós.

Nós somos apenas nós no tecido universal. Que cabe numa casca de noz, ao mesmo tempo que não cabe em nenhum de nós e em todos nós.   

Isso não é um poema.

É uma anotação de estudos. Aula de ciências...

Às vezes é preciso revisitar nossa formação básica. Será que eu aprendi direito?


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Emudar

 Me querem muda

Quieta, calada, subordinada

Até que me calo

Mas não me aquieto

Me recuso a me subordinar ao que me faz mal

Ao que me fere, ao que nega a minha existência

Me querem muda

Pois quando falo

Deixo claro o que fazem com pessoas como eu

E ninguém quer se sentir vilão de ninguém

Me querem muda

Mas não completamente muda

Não querem aprender língua de sinais

Me querem cordial

Bom dia dona Maria

Sim senhor, claro que posso ajudar

Mesmo que  não possa

Me querem muda

Mas não me deixam mudar

Não me deixam emudecer

Não me deixam ensurdecer

Me querem muda

Mas como muda?

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Subvalorizada

 Eu sou

De todas as coisas que faço

As que mais me dedico

São as que menos me trazem reconhecimento

Eu dou importância a coisas desimportantes

E o mundo não me leva a sério

Eu é que não vou levar a sério

Um mundo desses

domingo, 15 de agosto de 2021

Sanidade e santidade

 Uma vez eu surtei. Nesse meu surto tive muitas sensações, dentre elas a que eu compreendia a dinâmica universal e "espiritual" com muita clareza.

Desde então, vez ou outra paira em minha mente as reflexões sobre loucura e espiritualidade. Até que ponto os loucos são loucos? Até que ponto os médiuns são médiuns?

Aonde reside o limite entre o surto psicótico, a esquizofrenia e a iluminação divina?

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Espera

 Tem um texto lindo do Paulo Freire sobre "esperançar", e como a nossa esperança não pode ser uma esperança passiva e tudo mais. Acho incrível, motivador, inspirador e, sobretudo, verdadeiro. Verdadeiro no sentido que o próprio fez algo com sua esperança. Ele militou, escreveu diversas obras, fez programas sociais para acabar com o analfabetismo no Brasil (e quase conseguiu).

O problema é que, ele, assim como Clarisse Lispector, Anísio Teixeira, Oscar Wilde e até Albert Einstein, depois de morto vira citação. E, veja, não quero defender que paremos de lê-los ou citá-los. É que citação não é ação, compreende?

É muito confortável, frente a um momento de DESESPERANÇA, citar o trecho de Paulo Freire sobre o verbo esperançar, enquanto na realidade estamos exercitando nossa espera. 

"Quem espera sempre alcança" é uma frase muito canalha. Porque não se trata só de esperar. "Pode esperar sentado". Se eu esperar sem fazer nada, nada acontece. Se tenho fome, de nada adianta esperar, preciso buscar o que comer, ou morrerei esperando.